World Owl Conference 2017

Por: Inês Roque

Licenciada em Biologia, mestre em Biologia da Conservação e doutorada em Biologia, realizou o Doutoramento na Universidade de Évora sobre “as penas enquanto ferramentas de biomonitorização de contaminantes ambientais”.

Entre os dias 26 e 30 de Setembro de 2017 decorreu na Universidade de Évora a 5ª edição da World Owl Conference, um evento mundial que junta especialistas de várias áreas do conhecimento em torno da investigação e conservação das aves de rapina nocturnas. Com organização do LabOr – Laboratório de Ornitologia (ICAAM, Universidade de Évora), em conjunto com o World Owl Project e o International Owl Center, e em parceria com a SPEA (BirdLife Portugal) e o STRI (ALDEIA), o evento contou com mais de 150 participantes de 30 países e 5 continentes, entre inscritos e público das sessões abertas.

Os trabalhos de dia 26 iniciaram-se com o workshopEffective Owl Education Methods”, organizado por Karla Bloem e James Duncan: uma discussão aberta e inclusiva sobre os métodos de educação sobre aves de rapina nocturnas utilizados em campo, sala e online em diferentes culturas em todo o mundo. Este workshop contou com oradores convidados da África do Sul, Canadá, Estados Unidos, Índia, Nepal e Reino Unido, e teve como objectivos partilhar métodos de educação sobre rapinas nocturnas utilizados em diferentes países e culturas, aprender a diferença entre interpretação e informação, discutir regulamentos e o seu impacto na educação, e reactivar o entusiasmo pela conservação das rapinas noturnas através da educação.

Segundo Jim Duncan, “como resultado deste workshop, oradores e público reforçaram a sua motivação e reuniram ideias e métodos novos para implementarem nos seus países de origem. Mais importante ainda, as informações partilhadas no workshop integrarão os Proceedings da World Owl Conference 2017 e houve consenso para divulgar a informação disponível num site a ser hospedado pelo International Owl Center.

Workshop ”Effective Owl Education Methods”. Da esquerda para a direita: James Duncan (Canadá), Karla Bloem (Estados Unidos), Satish Pande (Índia), Raju Acharya (Nepal), Jonathan Haw (África do Sul) e Trystan Williams (Escócia) discutem o impacto das leis e políticas nos programas de educação sobre rapinas nocturnas.
Workshop “Telemetry, Nestcams and Data Analysis”. Sarah Levett (Biotrack/Lotek, Reino Unido) apresenta as características das antenas usadas no seguimento de rapinas nocturnas. Da esquerda para a direita: Sarah Levett (Reino Unido), Dries Van Nieuwenhuise (Bélgica), Ronald Van Harxen (Holanda) e Ingrid Kohl (Áustria).    
Durante a tarde, o workshop “Telemetry, Nestcams and Data Analysis”, organizado por David Johnson e Dries Van Nieuwenhuyse, focou-se no equipamento e nos aspectos metodológicos dos estudos sobre rapinas nocturnas. Com oradores convidados da Áustria, Bélgica, Estados Unidos, Holanda e Reino Unido, este workshop pretendeu oferecer informações actualizadas sobre tecnologias-chave para a investigação, conservação e monitorização de rapinas noturnas. Em paralelo com os workshops decorreram um simpósio e uma mesa redonda. No simpósio “Impacts of Human Infrastructures on Owls”, com organização de Rui Lourenço e Ricardo Tomé, foram revistos e discutidos os efeitos das infraestruturas (estradas, rede eléctrica, parques eólicos) nas populações de aves de rapina nocturnas em todo o mundo, com apresentação de casos de estudo Portugueses. Entre os oradores, estiveram representadas a Universidade de Évora, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, a Strix e a Infraestruturas de Portugal. Segundo Rui Lourenço, “neste simpósio fez-se uma revisão dos impactos das diversas infraestruturas humanas nas aves de rapina nocturnas chegando-se à conclusão que as estradas são as infraestruturas com maior impacto, que as linhas eléctricas também são responsáveis por algumas mortes por electrocução e que a mortalidade de rapinas nocturnas em parques eólicos é um fenómeno mais ocasional.” Com o patrocínio especial da EDP Distribuição, a temática deste simpósio foi reforçada com uma demonstração dos métodos utilizados pela empresa para minimizar as electrocuções de aves.
Simpósio “Impacts of Human Infrastructures on Owls”. Ricardo Tomé (STRIX, Portugal) apresenta uma revisão dos impactes dos parques eólicos na mortalidade das rapinas nocturnas.
Mesa redonda “Barn Owls Know No Boundaries: The Role of Nature Conservation in Peace”. Alexandre Roulin (Universidade de Lausanne, Suíça) ilustra como a coloração da coruja-das-torres pode influenciar as interacções predador-presa, numa apresentação inspiradora sobre como conhecimento científico pode ajudar a promover a paz em áreas de conflito.

Na mesa redonda “Barn Owls Know No Boundaries: The Role of Nature Conservation in Peace”, com organização de Alexandre Roulin e João E. Rabaça,  demonstrou-se que o estudo das rapinas nocturnas pode ir muito além dos aspectos científicos da conservação da natureza: pode unir pessoas e promover a confiança entre comunidades em conflito. Usando como exemplo um projeto emblemático que promove a coruja-das-torres como agente biológico de controlo de pragas de roedores (em substituição do uso de rodenticidas que poluem o solo, são letais para a fauna selvagem e representam um problema sanitário para as populações humanas), esta sessão centrou-se na diplomacia científica, ou seja, na aliança entre a conservação da natureza e o estabelecimento da paz.
No mesmo dia foi inaugurada a exposição de fotografia “As Aves de Rapina Nocturnas em Portugal”, promovida pelo STRI – Rapinas Nocturnas de Portugal/ALDEIA em conjunto com o LabOr, e que após o evento terá um percurso itinerante com o objetivo de sensibilizar a população Portuguesa para a importância da conservação destas aves. Esta exposição conta com o patrocínio da Altri Florestal.

Exposição de fotografia “As Aves de Rapina Nocturnas em Portugal”, durante um coffee break do congresso.
Sessão de abertura. Da esquerda para a direita: Pedro Rocha (ICNF), Ana Costa Freitas (Reitora da Universidade de Évora), Cármen Carvalheira (CCDR Alentejo) e João E. Rabaça (LabOr/ICAAM, Universidade de Évora).
No dia 27 de Setembro decorreu a Sessão Oficial de Abertura da conferência, com a presença de Ana Costa Freitas – Reitora da Universidade de Évora, Cármen Carvalheira – Vice-presidente da CCDR Alentejo, Pedro Rocha – Diretor do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo do ICNF e João Rabaça – Responsável Científico do LabOr/ICAAM. No mesmo dia tiveram início as sessões plenárias, com abertura por Pertti Saurola como orador convidado, com a comunicação 52 years among Ural and Tawny Owls Strix uralensis and S. aluco – Why? e as sessões “Biologia de Reprodução e Comportamento”, e “Conservação”.
O dia 28 de Setembro iniciou-se com a comunicação de David H. Johnson sobre Owls in myth and culture – Insights from 30 countries, seguindo-se as sessões “Cultura”, “Métodos” e “Evolução, Taxonomia e Filogenia”. A tarde foi reservada para uma sessão informal de pósteres, seguida do programa social “Welcome to Portugal Evening”, uma prova comentada de vinhos Tyto alba oferecida pela Companhia das Lezírias S.A. com degustação de produtos regionais, seguida de um concerto de fado por Ana Roque, que contribuíram para mostrar ao mundo um pouco da cultura Portuguesa.
Prova de vinhos Tyto alba. O enólogo Bernardo Cabral (Companhia das Lezírias S.A., Portugal) conduz uma prova comentada de vinhos e explica como a empresa se inspirou no projecto TytoTagus do LabOr/ICAAM (Universidade de Évora) para criar a marca e desenvolver o conceito de sustentabilidade subjacente. Foto: Assen Ignatov

No dia 29 os trabalhos iniciaram-se com a comunicação do orador convidado Al Vrezec intitulada Being with owls – From faunistic surveys to ecosystem research, seguindo-se as sessões “Monitorização”, “Migração e Dispersão”, e “Movimentos e Habitat”.

O último dia do congresso contou com a comunicação de Erkki Korpimäki com o título Living in a variable environment: Tengmalm’s and Pygmy Owls and the three-year high-amplitude population cycle of voles, seguida da sessão “Ecologia”. Finalmente, na Sessão de Encerramento da Conferência, as Conclusões da WOC2017 foram apresentadas por João E. Rabaça. Esta conferência contou com mais de 60 comunicações orais e 24 comunicações em póster. Parte dos trabalhos apresentados será publicada num número especial da revista ornitológica Portuguesa AIRO, que ficará disponível online de forma gratuita em 2018.

Foto de grupo à entrada do auditório do Colégio do Espírito Santo, Universidade de Évora.
Foto: Assen Ignatov

Finalizada a World Owl Conference 2017, houve lugar a actividades de lazer promovidas pela Organização: uma visita guiada pela cidade (em parceria com a empresa Évora Cultural Experience), um passeio à noite para observação de rapinas nocturnas no centro de Évora, uma visita cultural a Coruche e ao Observatório do Sobreiro e da Cortiça (em parceria com a Câmara Municipal de Coruche) e uma saída de birdwatching à Companhia das Lezírias e EVOA (em parceria com a Câmara Municipal de Évora e as entidades visitadas). A Organização agradece a todos os parceiros e patrocinadores que tornaram possível este evento.

Évora by night, uma visita de “owlwatching” guiada por Rui Lourenço, em que os participantes puderam ver e ouvir várias corujas-do-mato urbanas.
Foto: Assen Ignatov

No EVOA os participantes visitaram as lagoas artificias criadas com o objectivo de recuperar habitats aquáticos para as aves na mais importante zona húmida de Portugal, a Reserva Natural do Estuário do Tejo.
Foto: Assen Ignatov

Na visita a Coruche, uma localidade historicamente ligada ao símbolo da coruja, os participantes visitaram o Observatório do Sobreiro e da Cortiça e ficaram a conhecer o ciclo da cortiça, desde o sobreiro até à rolha, bem como muitos outros usos do material.
Foto: Susana Cruz