No dia 27 de Novembro de 2017 o LabOr – Laboratório de Ornitologia esteve presente na iniciativa da Câmara Municipal de Coruche “Semana Europeia da Prevenção de Resíduos e Reflorestar Portugal”. A Herdade dos Concelhos recebeu 196 alunos do ensino pré-escolar e do primeiro ciclo do ensino básico para um dia de actividades em plena floresta mediterrânica. No atelier “As Aves do Montado”, alunos e professores aprenderam como o gaio (Garrulus glandarius) é importante para a regeneração dos sobreiros, como os chapins (Parus major e Cyanistes caeruleus, entre outras espécies) podem contribuir para controlar as pragas de insectos que disseminam doenças nestes sistemas agro-silvo-pastoris, e até como a coruja-das-torres (Tyto alba) pode ajudar a impedir que micromamíferos consumidores de bolotas proliferem a ponto de comprometerem a regeneração natural do montado.

Uma história serviu de mote para uma conversa exploratória com as crianças, apoiada em recursos resultantes de projectos de investigação e divulgação científica desenvolvidos pelo LabOr. Com base em conteúdos do livro “O montado e as aves: boas práticas para uma gestão sustentável”, editado em 2015 pelo LabOr/ICAAM/Universidade de Évora e pela Câmara Municipal de Coruche, a história contava o reencontro de dois amigos, um gaio e um sobreiro. O gaio pode colher mais de 400 bolotas por hectare numa estação, armazenando-as no solo para depois as consumir. Muitas das bolotas enterradas acabam por germinar, o que faz do gaio o principal agente dispersor de bolotas no Mediterrâneo (veja a caixa 3.1 “Gaio: o grande promotor da regeneração natural no montado”, na página 47).

O papel do chapim enquanto consumidor de insectos corticais potencialmente prejudiciais ao montado, foi também explorado nesta acção. No âmbito de projectos do LabOr já foram instaladas, desde 2008, mais de 700 caixas-ninho em montados nos concelhos de Benavente, Coruche, Évora e Ponte de Sor, contribuindo para aumentar as populações de aves insectívoras como forma de controlo biológico das doenças dos sobreiros. Para conhecer mais sobre os modelos de caixas-ninho e as espécies insectívoras a que se destinam, consulte a caixa 8.1. “Potencial do controlo de pragas florestais através do aumento de cavidades para as aves insectívoras” (na página 240).

Outra das estrelas do dia foi a coruja-das-torres. Algumas corujas-das-torres seguidas no âmbito do Projecto TytoTagus permaneceram em áreas de montado em Coruche durante grande parte da sua dispersão, usando os sobreiros para se abrigarem durante o dia e caçando durante a noite num raio de 3km. Através do estudo da dieta da coruja-das-torres sabemos que uma das suas principais presas em áreas de montado é o rato-dos-bosques (Apodemus sylvaticus), que se alimenta de bolotas. Os predadores como a coruja-das-torres contribuem para o equilíbrio das populações das suas presas, sendo em vários contextos usadas como auxiliares em controlo biológico, uma vez que ajudam a evitar explosões populacionais de animais com potencial para provocarem danos nas culturas.

Durante a acção, os professores receberem um exemplar do Atlas Digital das Aves da Mitra, um conteúdo produzido no âmbito do Projecto AviSkola, com objectivo de apoiar o ensino experimental das ciências biológicas através das aves enquanto  embaixadoras da conservação dos ecossistemas.