O impacto do canto do rouxinol do Japão em aves nativas

Algumas aves nativas cantam menos na presença de aves exóticas o que pode alterar as suas rotinas diárias, afectando a comunicação e o acesso ao alimento. Espécies exóticas são plantas ou animais que, por acção do homem, estão presentes fora das áreas de que são nativas. Se bem adaptadas aos seus novos ambientes, as espécies exóticas podem tornar-se invasoras, o que significa que vencem ao competir com as espécies nativas. Podemos estudar a agressividade entre diferentes espécies de aves analisando seu comportamento de canto porque as aves cantam para defender agressivamente um território na presença de um oponente. Num estudo anterior, descobrimos que duas espécies de aves comuns na Europa, o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) e a toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla), manifestam inibição quando se alimentam juntamente com uma ave exótica com preferências alimentares semelhantes: o rouxinol do Japão (Leiothrix lutea), nativo da Ásia. Tendo isso em conta, planeámos uma experiência para medir o efeito de um rouxinol a cantar no comportamento de piscos e de toutinegras no centro de Portugal. Primeiro, gravámos o canto de vários rouxinóis; de seguida, procurámos territórios de piscos e de toutinegras; finalmente, reproduzimos o canto do rouxinol quando as aves nativas começavam a cantar nos seus territórios. Fizemos o mesmo usando o canto de outra espécie nativa comum, o chapim-real (Parus major), para comparar com as respostas ao rouxinol. Os piscos ficaram mais vezes em silêncio após o canto do rouxinol do que após o canto do chapim. Adicionalmente, os piscos e as toutinegras não se aproximaram do local de onde rouxinol estava a cantar. Este estudo destaca o impacto que as aves exóticas podem causar nos nossos ecossistemas, pela perturbação que causam nas interações entre as espécies nativas, afectando consequentemente os processos ecológicos que delas dependem.

Pereira, P. F., Lourenço, R., Mota, P. G. (2020). Two songbird species show subordinate responses to simulated territorial intrusions of an exotic competitor. Acta Ethologica.

DOI